Como surgiu a idéia do Livro?
É uma idéia antiga, de reunir os amigos e escritores que vem dando a sua contribuição à cultura da cidade. Daí veio a intenção de juntar principalmente os colaboradores dos jornais locais para escrever sobre alguma coisa do Arroio Grande. Então eu procurei o Poder Público Municipal que resolveu apoiar a idéia e nos deu – a mim e ao Donga, parceiro de coordenação - liberdade pra desenvolver o projeto.
Como esse projeto vai funcionar?
O Projeto se chama “13/5 Lugares do Arroio Grande e outras referências”. A idéia dos Treze lugares e meio... é pra “fechar” com os 135 anos do Município, que serão comemorados em 24 de março de 2008. Serão no mínimo quatorze textos. Cerca de dez convidados – entre eles o Arnóbio, o Anarolino, o Julinho Salaberry, o Caboclo Damatta, o João Garcia, eu e outros – vão escrever sobre algum lugar do Arroio Grande e o trabalho será publicado num livro...
Vai haver uma escolha por concurso, também?
Exato. Além desses convidados, três outras crônicas serão escolhidas através de um concurso, aberto a quem quiser concorrer, que vai premiar outros autores. A única exigência é que se fale sobre um lugar do Arroio Grande. Não precisa ser um lugar “histórico” desde que faça parte da história da cidade. Exemplos: O Farol da Ponta Alegre, O Café Central, O Cine Marabá, O 20 de Setembro, etc... O regulamento do concurso “Treze lugares e meio de Arroio Grande e outras referências” vai estar a disposição nos sites da Prefeitura, no Portal Mauá, nas Secretarias de Educação e Turismo e até num blog - http://premioliterarioag.blogspot.com/ - criado especialmente para divulgar o concurso. A gente quer contar também com a participação e o apoio da mídia local, jornais, rádios, etc...
Qual o cronograma do projeto?
O projeto foi lançado agora, na Feira do Livro. Os participantes fixos estão sendo convidados diretamente por mim. O regulamento do concurso que vai escolher outros nomes deverá ser divulgado até o final do ano e o período de inscrição para os concorrentes será de 1° de janeiro de 2008 até 29 de fevereiro de 2009. Depois, em três dias os vencedores serão escolhidos e terão os seus nomes divulgados. Então o livro irá para a impressão e deverá ser lançado com todos os participantes reunidos na festa de aniversário dos 135 anos de Arroio Grande, em 24/março/2008.
Qual a participação da Prefeitura no projeto?
O projeto será totalmente coordenado por mim, na parte literária, e pelo Donga, na elaboração da arte. Haverá uma comissão julgadora, retirada dos escritores da cidade – Arnóbio, etc... – para escolher os premiados no concurso. É um projeto dos escritores, que vão ceder os seus trabalhos para a comunidade. A Prefeitura se envolve apenas com a divulgação, publicação e lançamento do livro. Em contrapartida, a obra, depois de impressa, deverá ser destinada ao conjunto da população. Será um pouco do resgate da história da cidade, com a participação da todos nós. É o projeto mais democrático e plural possível, tomara que tenha um resultado final que também agrade a todos.
quinta-feira, 27 de dezembro de 2007
segunda-feira, 17 de dezembro de 2007
Primeiros nomes confirmados...
O Projeto "Treze Lugares e meio de Arroio Grande e outras referências" prevê - além do Prêmio Literário que vai escolher 3 textos por meio de concurso - a divulgação do trabalho de cronistas convidados pela coordenação do evento, escritores reconhecidos por sua atuação nos meios de imprensa e literários da região.
Primeiros nomes que confirmaram a sua participação no projeto:
Amália Pereira (Jornal "Correio do Sul");
Anarolino Silveira Neto (Jornal "Correio do Sul");
André Petry (Revista "Veja")
Arnóbio Zanottas Pereira (Jornal "Meridional");
Caboclo da Matta (Jornal "Meridional");
João Félix Soares Neto (Escritor - autor de "O Cigarro ensanguentado e outros contos");
João Garcia (Jornais "Correio do Sul" - AG - "Correio do Povo" e "Rádio Guaíba" - POA)
Julinho Salaberry (Jornal "O Meridional");
Paulo Carriconde (Jurista e Personalidade Cultural)
Paulo Squeff Conceição (Escritor - autor de "Golf Club e a Bíblia Ornamental");
Pedro Jaime Bittencourt Junior (Jornal "A Evolução");
Sérgio Antônio Silveira Canhada (Intelectual e historiador)
Aguardamos a confirmação de outros nomes para posterior divulgação.
Primeiros nomes que confirmaram a sua participação no projeto:
Amália Pereira (Jornal "Correio do Sul");
Anarolino Silveira Neto (Jornal "Correio do Sul");
André Petry (Revista "Veja")
Arnóbio Zanottas Pereira (Jornal "Meridional");
Caboclo da Matta (Jornal "Meridional");
João Félix Soares Neto (Escritor - autor de "O Cigarro ensanguentado e outros contos");
João Garcia (Jornais "Correio do Sul" - AG - "Correio do Povo" e "Rádio Guaíba" - POA)
Julinho Salaberry (Jornal "O Meridional");
Paulo Carriconde (Jurista e Personalidade Cultural)
Paulo Squeff Conceição (Escritor - autor de "Golf Club e a Bíblia Ornamental");
Pedro Jaime Bittencourt Junior (Jornal "A Evolução");
Sérgio Antônio Silveira Canhada (Intelectual e historiador)
Aguardamos a confirmação de outros nomes para posterior divulgação.
PRIMEIRAS ESCOLHAS DE LUGARES...
Os convidados que já confirmaram presença no Projeto 13/5 Lugares... começam a definir os locais onde deverão situar as suas crônicas, podendo, todavia, alterar tal idéia a qualquer momento.
A publicação, neste blog, da intenção de texto dos autores convidados, destina-se a manifestar tal possibilidade aos concorrentes do prêmio literário, para evitar coincidência de "lugares", embora - como deverá constar expressamente no Regulamento do Concurso - tal colisão não venha a implicar, necessariamente, em exclusão da obra coletiva.
Amália Pereira - "A Rua da Bahia";
Anarolino Silveira Neto - A Rua Souza Gusmão
André Petry- A Rua Severo Feijó
Arnóbio Pereira - A Coxilha do Fogo
Caboclo da Matta - "O Redondo da Praça" ou a Ponte Carlos Barbosa
João Félix - A Vila Matarazzo
João Garcia - A Usina Elétrica
Júlio Salaberry - A Airosa Galvão
Paleca Conceição - O arroio Grande
Paulo Carriconde - A Praça Central
Pedro Bittencourt Jr - A Top Set
Sérgio Antônio Canhada - A venda do Hermógenes ou O "Acapulco"
A publicação, neste blog, da intenção de texto dos autores convidados, destina-se a manifestar tal possibilidade aos concorrentes do prêmio literário, para evitar coincidência de "lugares", embora - como deverá constar expressamente no Regulamento do Concurso - tal colisão não venha a implicar, necessariamente, em exclusão da obra coletiva.
Amália Pereira - "A Rua da Bahia";
Anarolino Silveira Neto - A Rua Souza Gusmão
André Petry- A Rua Severo Feijó
Arnóbio Pereira - A Coxilha do Fogo
Caboclo da Matta - "O Redondo da Praça" ou a Ponte Carlos Barbosa
João Félix - A Vila Matarazzo
João Garcia - A Usina Elétrica
Júlio Salaberry - A Airosa Galvão
Paleca Conceição - O arroio Grande
Paulo Carriconde - A Praça Central
Pedro Bittencourt Jr - A Top Set
Sérgio Antônio Canhada - A venda do Hermógenes ou O "Acapulco"
Pedro Bittencourt Jr - Coordenador do Projeto 13/5 Lugares de Arroio Grande...
Pedro Jaime Bittencourt Junior é colaborador do Jornal "A Evolução", de Arroio Grande e da Revista Genteboa, de Pelotas, onde atua junto com o chargista Donga e o compositor Edu Damatta, ambos parceiros no projeto 13/5 lugares do Arroio Grande e outras referências.
Idealizador da obra coletiva que deverá reunir os principais escritores dos jornais de Arroio Grande - Arnóbio Pereira, Anarolino Neto, Caboclo Damatta, Júlio Salaberry, entre outros - junto com "arroiograndenses" que vivem em outras cidades - João Garcia, João Félix Neto, Paleca Conceição e outros - num livro de crônicas, Pedro Bittencourt é Jr, que é advogado, foi também o criador e apresentador do Programa "Personagem Principal" da Rádio Difusora local, e colaborador dos jornais A Folha, de Jaguarão e o Herval, possuindo intensa relação com os movimentos culturais da Região Sul.
DONGA-COORDENADOR DE ARTE DO 13/5
O chargista publica seus trabalhos no jornal Meridional e no Portal Terra de Mauá. Teve seus trabalhos expostos em vários salões de humor do país, como: Salão Internacional de Desenho para Imprensa, Salão Carioca de Humor; Salão de Humor do Mercosul, e mais recentemente lançou o livro Edição de Risco, em uma parceria com outros chargistas. Está participando do projeto do livro Sem Trégua, o segundo livro cooperativado da GRAFAR, tendo como tema a guerra. Recebeu premiações no Salão de Humor de Volta Redonda e também por várias vezes foi agraciado com o troféu Destaque em Artes conferido pelo Clube do Comércio de Arroio Grande. Seus últimos trabalhos, fizeram parte da exposição Copa do Mundo (promovida pela Infraero) e Taim... graçado
O ENTERRO DO DIABO - LEMBRANÇAS
O Basílio que eu conheci, no início dos anos setenta lá em Arroio Grande, era ainda funcionário do Banco do Estado até o dia em que deixou um bilhete em cima da mesa do gerente. - “O pássaro voou”, leram os colegas, e ficaram contando dinheiro enquanto ele saía pra contar estrelas.
Uma década depois, no apartamento da Cohabpel, atendo o telefone e a voz no outro lado irrompe em plena meia-noite: “Diabo, me classifiquei, vem pra cá, vamú cume elas tudo, é bucha! diz o “loco”, lá de Santa Rosa, do primeiro Musicanto, onde a poética de “Uma canção pra minha prenda” marcaria a sua arrancada numa trajetória que se tornaria referência em toda a Zona Sul.
Realmente, os “versos tortos” feitos pra lembrar, e que ele esqueceria na hora da gravação, pra desespero do produtor do disco lá no festival, seriam uma mudança na vida do “Diabo”, que era como nós nos chamávamos enquanto ouvíamos antigas composições – Groenlândia, América, Delírio... – arriscando novas parcerias – Mulheres de Argentina, Lacaio... – na época em que ficamos até três dias sem dormir compondo em grupo a desconhecida Vagavida (quando eu me indago/que coisas que eu trago/pra o mundo/ninguém me responde/o quanto se esconde/num vagabundo) para, depois, no meio da apresentação o Basílio interromper a canção e gritar: - “Não tem recurso!”, parando a música, parando a mostra, num ataque frontal ao convencionalismo do público.
O Basílio que eu conheci era um gênio louco, rejeitado na terra natal que hoje o reverencia, dando o seu nome ao Centro de Cultura local. Era um Diabo que infernizava a cidade (“ainda prefiro a flor do campo e esta negra solidão”) na inquietude de um tempo que haveríamos de modificar sem, entretanto, nem saber pra onde...
O Diabo que eu conheci teve um dia que partir, e ficou em silêncio na hora da reza dos hipócritas, frente a canalha que compareceu ao seu enterro, pra explodir numa sonora gargalhada quando uma troupe de borrachos voltou de madrugada lhe oferecendo em serenata uma última cerveja e as definitivas carteiras de Marlboro.
Ali sim estavam os verdadeiros amigos, os insanos, os dementes, que serviam de respiração ao artista maldito.
Ali também eu tive a certeza de que alguma coisa terminava pra dar início a algo completamente novo.
Porque ali, no enterro do Diabo, morria o homem pra nascer o mito, esse Basílio de que a gente hoje ouve falar mas ainda vai ter que aprender a conhecer...
Pedro Bittencourt Jr.
Uma década depois, no apartamento da Cohabpel, atendo o telefone e a voz no outro lado irrompe em plena meia-noite: “Diabo, me classifiquei, vem pra cá, vamú cume elas tudo, é bucha! diz o “loco”, lá de Santa Rosa, do primeiro Musicanto, onde a poética de “Uma canção pra minha prenda” marcaria a sua arrancada numa trajetória que se tornaria referência em toda a Zona Sul.
Realmente, os “versos tortos” feitos pra lembrar, e que ele esqueceria na hora da gravação, pra desespero do produtor do disco lá no festival, seriam uma mudança na vida do “Diabo”, que era como nós nos chamávamos enquanto ouvíamos antigas composições – Groenlândia, América, Delírio... – arriscando novas parcerias – Mulheres de Argentina, Lacaio... – na época em que ficamos até três dias sem dormir compondo em grupo a desconhecida Vagavida (quando eu me indago/que coisas que eu trago/pra o mundo/ninguém me responde/o quanto se esconde/num vagabundo) para, depois, no meio da apresentação o Basílio interromper a canção e gritar: - “Não tem recurso!”, parando a música, parando a mostra, num ataque frontal ao convencionalismo do público.
O Basílio que eu conheci era um gênio louco, rejeitado na terra natal que hoje o reverencia, dando o seu nome ao Centro de Cultura local. Era um Diabo que infernizava a cidade (“ainda prefiro a flor do campo e esta negra solidão”) na inquietude de um tempo que haveríamos de modificar sem, entretanto, nem saber pra onde...
O Diabo que eu conheci teve um dia que partir, e ficou em silêncio na hora da reza dos hipócritas, frente a canalha que compareceu ao seu enterro, pra explodir numa sonora gargalhada quando uma troupe de borrachos voltou de madrugada lhe oferecendo em serenata uma última cerveja e as definitivas carteiras de Marlboro.
Ali sim estavam os verdadeiros amigos, os insanos, os dementes, que serviam de respiração ao artista maldito.
Ali também eu tive a certeza de que alguma coisa terminava pra dar início a algo completamente novo.
Porque ali, no enterro do Diabo, morria o homem pra nascer o mito, esse Basílio de que a gente hoje ouve falar mas ainda vai ter que aprender a conhecer...
Pedro Bittencourt Jr.
O ITALIANO - CRÔNICA
Figura das mais queridas entre a minha turma, amigo íntimo do meu pai e conhecido até das novas gerações, caminhando todas as noites do Atlântida da Marilin até o fim da Avenida, sempre ao lado do Nico do Edmundo e acompanhado do seu indefectível rádio preto, o Jacques Chiacchio nos deixou muito cedo, há exatos dois anos.
Conhecido por seus hábitos estranhos, entre eles o de chamar cada amigo de “idiota”, o Jacques abandonou o Banco do Brasil lá pelo final dos anos 70, vendeu um campito que havia herdado, e, antes de completar 40 anos, se mandou pra Praia do Hermenegildo onde viveu por duas décadas, colecionando histórias e aumentando o seu conjunto de esquisitices.
Em vinte anos de praia, o italiano, com a pele de uma brancura que parecia talco, jamais pegou sol e entrou três vezes no mar, uma deles de sapatos; criou pingüim no inverno e um cachorro (cujo apelido era inútil) no verão, “colocou” um bar que não chegou a inaugurar, plantou tomates e pimentões que nunca comercializou e colecionou uma garagem inteira de sobras do oceano, que também não serviram pra nada.
Nunca chegou a concretizar o sonho de encontrar algum pedaço de armamento utilizado na chamada Guerra das Malvinas (arquipélago argentino tomado pelos ingleses no Atlântico, em 1982) e que pudesse ter sido trazido pelas correntes do vento sul até o Hermenegildo, o que todos diziam ser improvável, mas que ele garantia não só ser possível como certo, afinal: - “vocês não entendem nada de corrente marítima, idiotas!”
Pra compensar, lá no isolamento do ponto mais meridional do país, bebeu tudo o que podia, especialmente nos primeiros anos da sua chegada ao Hermena, ocasião em que ligou para um depósito de bebidas em Santa Vitória do Palmar e encomendou: “traz um caminhão de cerveja e não precisa contar as caixas, eu sei quantas são”, garantiu.
Mas o Jacques não era só folclore. Inteligente, possuía imensa bagagem cultural, pelos hábitos de leitura que cultivara desde muito cedo. O italiano era um teórico da vida e discussão garantida nas madrugadas.
Das suas diversas histórias, uma das mais comentadas é a da festa do Grêmio campeão brasileiro de 1981, quando ocorreu uma das maiores “carreatas” da historia do Arroio Grande, sendo que o protagonista foi muito mais o Lisca, primo do Jacques, do que o próprio italiano, como eu pude testemunhar.
Tremenda comemoração, carro pra tudo quanto é lado no Centro da cidade, nós na Variant azul do Jacques e, na esquina da Loja do Cláudio Silva, o Lisca inventa de soltar um foguete. Cigarro no estopim e... bum!!! O maior estouro dentro do carro, nos tapando na fumaça e deixando todo mundo tonto, sem enxergar nada. O Jacques se vira pra o Capitão e reclama, aos berros: - “Idiiiiiiiiiiiiota, com os vidros fechados, não!!!”. Ao que o Lisca, embora magoado porque o amigo lhe chamou a atenção, rebate serenamente: - “Oh, italiano, assim não dá, tás mui casmurro, uma festita maravilhosa e tu vais te preocupar com um detalhezito destes?!!”.
Pedro Bittencourt Jr.
Conhecido por seus hábitos estranhos, entre eles o de chamar cada amigo de “idiota”, o Jacques abandonou o Banco do Brasil lá pelo final dos anos 70, vendeu um campito que havia herdado, e, antes de completar 40 anos, se mandou pra Praia do Hermenegildo onde viveu por duas décadas, colecionando histórias e aumentando o seu conjunto de esquisitices.
Em vinte anos de praia, o italiano, com a pele de uma brancura que parecia talco, jamais pegou sol e entrou três vezes no mar, uma deles de sapatos; criou pingüim no inverno e um cachorro (cujo apelido era inútil) no verão, “colocou” um bar que não chegou a inaugurar, plantou tomates e pimentões que nunca comercializou e colecionou uma garagem inteira de sobras do oceano, que também não serviram pra nada.
Nunca chegou a concretizar o sonho de encontrar algum pedaço de armamento utilizado na chamada Guerra das Malvinas (arquipélago argentino tomado pelos ingleses no Atlântico, em 1982) e que pudesse ter sido trazido pelas correntes do vento sul até o Hermenegildo, o que todos diziam ser improvável, mas que ele garantia não só ser possível como certo, afinal: - “vocês não entendem nada de corrente marítima, idiotas!”
Pra compensar, lá no isolamento do ponto mais meridional do país, bebeu tudo o que podia, especialmente nos primeiros anos da sua chegada ao Hermena, ocasião em que ligou para um depósito de bebidas em Santa Vitória do Palmar e encomendou: “traz um caminhão de cerveja e não precisa contar as caixas, eu sei quantas são”, garantiu.
Mas o Jacques não era só folclore. Inteligente, possuía imensa bagagem cultural, pelos hábitos de leitura que cultivara desde muito cedo. O italiano era um teórico da vida e discussão garantida nas madrugadas.
Das suas diversas histórias, uma das mais comentadas é a da festa do Grêmio campeão brasileiro de 1981, quando ocorreu uma das maiores “carreatas” da historia do Arroio Grande, sendo que o protagonista foi muito mais o Lisca, primo do Jacques, do que o próprio italiano, como eu pude testemunhar.
Tremenda comemoração, carro pra tudo quanto é lado no Centro da cidade, nós na Variant azul do Jacques e, na esquina da Loja do Cláudio Silva, o Lisca inventa de soltar um foguete. Cigarro no estopim e... bum!!! O maior estouro dentro do carro, nos tapando na fumaça e deixando todo mundo tonto, sem enxergar nada. O Jacques se vira pra o Capitão e reclama, aos berros: - “Idiiiiiiiiiiiiota, com os vidros fechados, não!!!”. Ao que o Lisca, embora magoado porque o amigo lhe chamou a atenção, rebate serenamente: - “Oh, italiano, assim não dá, tás mui casmurro, uma festita maravilhosa e tu vais te preocupar com um detalhezito destes?!!”.
Pedro Bittencourt Jr.
TIMAÇO - CRÔNICA
(Para o Seu Romero)
Moacir Prestes; Garibaldi, Nenê Balhego, Adílson Feijó e Edy do Solano; Seu Walter, Jaime Freitas e Luiz Carlos Hernandez; Fernando Magro, Jacques e Prego. De treinador, Jesus Falcão, o “Ganso”, da Voz dos Pampas. Mesmo sem ter jogado junto, esse time marcou época em Arroio Grande. Praticantes do esporte mais popular das pequenas cidades, a concentração para o aperitivo fez deles verdadeiros craques e contribuiu para que deixassem muitas histórias. Time de respeito mesmo, timaço.
O Seu Walter seria, logicamente, o capitão. Educado, tranqüilo, mas também enérgico quando necessário, impunha disciplina. Coisa que o Pedro Bittencourt não tinha, por isso era naturalmente reserva, embora jogasse demais. Mas não tinha modos e nunca foi de respeitar regra nenhuma, era realmente um indisciplinado. Por isso levava sonoras “putiadas” do Edy do Solano, de longe o mais encrenqueiro da turma, que vivia se auto-expulsando, desfalcando a equipe. Como o Jacques, que desapareceu por anos e anos, pra participar de outras disputas, noutras praias... Tudo sob os protestos do Garibaldi que queria o grupo todo sempre reunido, um conciliador. O Moacir Prestes nem via direito as partidas, preocupado que estava sempre com a sua grande paixão, o trabalhismo, diferentemente do Fernando Magro que achava a política um assunto meio “sem fundamento”, que mais afastava do que aproximava qualquer grupo. Aplaudidíssimo. Pelo Jaime, que tinha a cumplicidade do Nenê Balhego pra falar do bandoneon, sendo às vezes interrompido pelo Luiz Carlos, ansioso por relembrar certos “causos” ocorridos nas antigas excursões do Arroio Grande. Já o arroz e o gado mais entravam em pauta quando apareciam o Seu Marquinhos ou o Maximiano Muñoz, espécies de “cartolas” do time, junto com o “Velho” Setembro. É que naquela equipe eles só tinham lugar na Diretoria, já que podiam até entender de jogo, mas não conseguiam acompanhar o ritmo do time do copo. Para alguns ali, só mesmo torcendo. Se bem que houve uma época em que o Castelhano Deniz e o Pedro Paulo andaram batendo um bolão, pra ciúmes do Adílson que queria ser sempre o destaque do time. Praticamente imbatível. Como o Prego, sempre na área, mas às vezes ameaçando se retirar de campo e criando pânico na turma. Brincadeira, era mesmo o mais moleque da equipe e jogava seguro, devagar e sempre. Um cracaço.
Criaturas maravilhosas, com destaque nas atividades que abraçaram, e se aqui são lembrados pelo saudável hábito do bar ou da boêmia é por que foi assim que muitos os conheceram - do Formigueiro aos Del Quinto, do Élvio Brasil ao Eraldo - em alguma época de um tempo bom do Arroio Grande.
Hoje eles permanecem na memória de todos, pelo que construíram e pelos exemplos que deixaram, pelas saudades dos amigos e pelo que representaram no saudável jogo da vida que só eles sabiam jogar. Time de respeito mesmo, um timaço!
Pedro Bittencourt Jr
UMA HISTÓRIA DE FUTEBOL - CRÔNICA
Santa Vitória do Palmar, década de 70. O Arroio Grande foi jogar contra o Brasil local e o Osca, que se tornaria o maior goleiro da história do futebol amador do Estado, chega à cidade sem condições de jogo. O seu reserva imediato, acreditem ou não, era o folclórico Papaquinho, apesar do seu pouco mais de metro e meio de altura. Desespero, insegurança, mas não houve jeito e o Papaco acabou mesmo tendo que ir pro jogo.
Começa a partida e o Brasil - dos terríveis irmãos Cláudio e Sérgio, dois Alemães que tinham uma patada nos pés – ataca o tempo todo. A bola não para de rondar a área do Saci e o Papaco reza pra que nenhum chute acerte o seu gol.
Jogo vai, jogo vem, e o Juiz acaba marcando um pênalti pro time da casa. Reclama daqui, discute dali, e o Osca, que havia ficado no banco de reservas mesmo sem poder jogar, aproveita a confusão, vai até o Papaco e diz: - “Quem bate é o Cláudio, o n° 10; ele sempre atira no lado direito do goleiro. ‘Voa’ pra lá que tu pega”.
O Papaco, que já vira duas bombas do Alemão estourarem bem perto dele, que ‘tava com diarréia e dor de cabeça desde que soube que iria jogar, pensou, naquele instante, na vida que levava no Arroio Grande, na cervejinha à noite, nos bailes de campanha, nos amigos de infância - o Toninho do Evaema, o João Antônio... - “Porque isso tinha que acontecer logo comigo?!” – resmungou, olhando pra cara desconfiada do Wilson do Ary, enquanto estudava o que fazer.
Espiou pr’um lado e viu a “massa” do Brasil vibrando ante a iminência do gol. No outro lado, o Osca sussurrando: “No teu canto direito, no direito...” Olhou pra trás e ainda teve tempo de ver o Neco Peru gozando: - “Pega agora, engraçadinho!” - disse o Neco, morrendo de rir do terror que ‘tava passando o Papaquinho, que vivia de zombar dos outros.
Por último, olhou pra frente e viu o Alemão de pernas grossas, “O canhão dos Mergulhões” como era chamado, e quando o Juiz apitou e o Cláudio disparou um dos mais potentes chutes que Santa Vitória já viu, o Papaco não teve dúvidas, contrariou o Osca e se jogou como um boneco inflável pro canto... esquerdo. A bola viajou por uma fração de segundo, procurando o ângulo, e deu o maior estouro quando acertou a orelha direita do Goleiro até sair pra escanteio.
O Papaco ficou caído, quase desmaiado, e sobre ele um amontoado de jogadores do Arroio Grande, inclusive o Osca que invadira o campo pra comemorar: “Tu adivinhou o canto, tu é melhor do que eu, melhor que eu!” – gritava eufórico, abraçado ao amigo.
O jogo terminou 2 X 1 pro Arroio Grande e o Papaco até hoje mal recorda do que aconteceu. Só lembra que passou o resto da partida tentando falar com o Alemão Cláudio, “O canhão dos Mergulhões”, até que, numa saída de bola, conseguiu passar o recado que queria: - “Se tiver outro pênalti e tu trocar de canto de novo eu te mato, desgraçado!” – teria dito, levantando a mão pra coçar a orelha que não parava nunca de incomodar...
Pedro Bittencourt Jr.
Começa a partida e o Brasil - dos terríveis irmãos Cláudio e Sérgio, dois Alemães que tinham uma patada nos pés – ataca o tempo todo. A bola não para de rondar a área do Saci e o Papaco reza pra que nenhum chute acerte o seu gol.
Jogo vai, jogo vem, e o Juiz acaba marcando um pênalti pro time da casa. Reclama daqui, discute dali, e o Osca, que havia ficado no banco de reservas mesmo sem poder jogar, aproveita a confusão, vai até o Papaco e diz: - “Quem bate é o Cláudio, o n° 10; ele sempre atira no lado direito do goleiro. ‘Voa’ pra lá que tu pega”.
O Papaco, que já vira duas bombas do Alemão estourarem bem perto dele, que ‘tava com diarréia e dor de cabeça desde que soube que iria jogar, pensou, naquele instante, na vida que levava no Arroio Grande, na cervejinha à noite, nos bailes de campanha, nos amigos de infância - o Toninho do Evaema, o João Antônio... - “Porque isso tinha que acontecer logo comigo?!” – resmungou, olhando pra cara desconfiada do Wilson do Ary, enquanto estudava o que fazer.
Espiou pr’um lado e viu a “massa” do Brasil vibrando ante a iminência do gol. No outro lado, o Osca sussurrando: “No teu canto direito, no direito...” Olhou pra trás e ainda teve tempo de ver o Neco Peru gozando: - “Pega agora, engraçadinho!” - disse o Neco, morrendo de rir do terror que ‘tava passando o Papaquinho, que vivia de zombar dos outros.
Por último, olhou pra frente e viu o Alemão de pernas grossas, “O canhão dos Mergulhões” como era chamado, e quando o Juiz apitou e o Cláudio disparou um dos mais potentes chutes que Santa Vitória já viu, o Papaco não teve dúvidas, contrariou o Osca e se jogou como um boneco inflável pro canto... esquerdo. A bola viajou por uma fração de segundo, procurando o ângulo, e deu o maior estouro quando acertou a orelha direita do Goleiro até sair pra escanteio.
O Papaco ficou caído, quase desmaiado, e sobre ele um amontoado de jogadores do Arroio Grande, inclusive o Osca que invadira o campo pra comemorar: “Tu adivinhou o canto, tu é melhor do que eu, melhor que eu!” – gritava eufórico, abraçado ao amigo.
O jogo terminou 2 X 1 pro Arroio Grande e o Papaco até hoje mal recorda do que aconteceu. Só lembra que passou o resto da partida tentando falar com o Alemão Cláudio, “O canhão dos Mergulhões”, até que, numa saída de bola, conseguiu passar o recado que queria: - “Se tiver outro pênalti e tu trocar de canto de novo eu te mato, desgraçado!” – teria dito, levantando a mão pra coçar a orelha que não parava nunca de incomodar...
Pedro Bittencourt Jr.
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